quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Vou-me embora pra Pasárgada






Vou-me Embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada



Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada


Manuel Bandeira


Uma certa nostalgia que nos envolve dos tempos que não voltam mais, um escape para o mau de nossas angústias cotidianas. Uma fuga interna para um lugar acolhedor e receptivo,onde tem um tapete vermelho nos esperando. Tudo que queremos temos em Pasárgada, tudo mesmo... "eu querooo ir".

domingo, 2 de janeiro de 2011

A LANÇA






Sinto por dentro a ponta de uma lança

furando tudo o que restou

Escorre pelo chao tudo que sou


Já não existe mais

Toda a beleza que existia antes

Tudo se desfez e se desfaz

a alegria se ve perdida em algum corredor escuro,

nao a vejo mais

meu pensamento roda, fica sempre em cima do muro

onde se encontra o cais

já não sou o que eu era anos atrás

Pedro Henrique

2 de maio de 2008

Um bom poema





um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto


Paulo Leminski
(1944-1989